Gato Sonhador







Por vezes os sonhos podem ser uma fonte muito criativa para a escrita, para mim são. Alguns poemas que escrevo são baseados nos sonhos e mesmo experimentei passar a escrito os meus sonhos e realmente é interessante a maneira como nos podem elucidar para certas coisas da nossa vida. Desde tempos primordiais que videntes e também curandeiros davam muito valor aos sonhos. Na nossa actualidade talvez não se dê assim tanto valor, temos a ciência que nos traz a precisão de conceitos.
Eu sou uma apoiante da ciência, embora é claro com objecções a determinadas coisas. Apesar disso, dou muito valor aos sonhos, não como uma maneira de tentar prever o futuro mas para entendimento próprio. Afinal, é o nosso subconsciente a trabalhar, é interessante ouvi-lo de vez em quando.


Um sonho estranho...

Esta noite foi mais um dos meus sonhos estranhos...tão estranho que duvido que tenha por onde se lhe pegar. Tudo começa num restaurante. Enorme, parecia um restaurante de cinco estrelas onde iam as pessoas com mais dinheiro. Clientes, educamente bem vestidos, espalhavam-se pelas mesas como uma praga de baratas. Eu deveria ter uns 18 anos, estava encarregue de servir às mesas e tratar de uma enorme caldeira, tão enorme que precisava de escadas para lá chegar. Deveria ser um fim-de-semana, estava tudo demasiado atarefado. Eu e as minhas colegas não parávamos um segundo.
Num momento, alguém bate à porta do restaurante (incomum? eu sei), abrimos e era um homem dos seus 27 anos, trazia dois, aparentemente inocentes, dálmatas, pareciam ainda jovens. A reacção foi de fuga logo que viram os animais. Todo e qualquer cliente tentou fugir como se de uma manada de elefantes se tratásse. Os que não conseguiram fugir, saltaram para as mesas e ficaram lá, a tremer. Eu e as minhas colegas como que já sabíamos disto e partilhávamos do mesmo medo (qualquer coisa me dizia que o homem aparecer com os cães já era habitual...). Corri para as escadas da caldeira, como num movimento reflexo. Os cães correram desalmados procurando algo - o cão do restaurante. Já era idoso, com bastante pêlo que lhe descaia para os olhos.
A uma dada altura os dálmatas passaram por mim e pelas minhas colegas e ouvi-os falar:
"Podes parar de fugir velho, já não tens como escapar"

Conseguiram encurralar o cão idoso a um canto. Aproximavam-se como predadores de experiência enquanto o cão gania nas suas súplicas:
"Por favor, não me façam mal, por favor..."
"Ah ah, agora é tarde para isso."
Um dos dálmatas saltou em direcção à garganta do cão, não sei bem de onde apareci mas o meu coração ficou num aperto, num repente tinha uma vassoura na mão e bati com ela no dálmata. Este voou até ao outro lado do restaurante. Mal se levantou os seus olhos faíscaram.
"Isto não tinha nada a ver contigo..." - rosnou.

De um pequeno ponto negro os seus olhos avermelharam, o seu pêlo manchado de bolinhas pretas tornou-se mais comprido, castanho, espesso. Estava em metamorfose. Do topo da sua cabeça vi as suas orelhas caninas alargarem-se, as suas patas tornarem-se mais grossas e pesadas marcando o chão com força. No meio do silêncio de murmúrios, um uivo. Era um lobisomem.

A porta azul

Este foi um sonho dos mais reais que já tive, uma tentativa de entrar nos sonhos de outra pessoa. Foi um sonho lúcido e estava tão perto...
Ela caminhava no mundo dos sonhos, onde tudo era possível. Era tão real...os seus pés descalços no chão de madeira, o seu respirar em nuvem, as milhares de portas por que passava. Todas eram azuís com nomes inscritos que ela não conseguia ler.
Ela andava, ignorando cada vez mais o frio do corredor e o empalidecer da sua pele. Parecia ser tudo igual, tudo demasiado assustador. Ela tentava ver o fim do corredor mas não conseguia; tentava saber como chegara ali mas não conseguia. Começou a correr. Passando velozmente as portas que eram nada mais que manchas azuís. Sem aguentar mais deixou-se cair no chão; o vestido branco encontrava-se rasgado e sujo e ela com cada vez mais frio. Pensou que era o fim quando uma brisa quente lhe abraçou o corpo. Vinha de uma porta em frente; era em tudo igual às outras mas nesta ela conseguia ler o nome, descontraidamente desenhado numa placa branca. Ela levantou-se atordoada. Correu para a porta mas a distância aumentava, correu mais rápido mas não a conseguia apanhar. Não acordes, gritava a si mesma, não acordes!!!
Uma fortíssima luz branca assomou das brechas da porta como se esta se abrisse e ela esticou furiosamente a mão. Precisava de entrar!
Era tarde...tudo o que via era o tecto branco do quarto. Tinha acordado. 

Harry Potter

Sou uma fã de Harry Potter, uma fã que não é histérica nem nada disso mas que adora imenso a saga. E porque é que falo nisto agora? Porque já sonhei mais que uma vez que era, nem mais nem menos, que o Harry.
Há pessoas que sonham com outras pessoas que conhecem, que falam com elas, eu SOU literalmente essas pessoas. Ás vezes apenas fisicamente, outras vezes física e mentalmente. Desta vez, eu era apenas fisicamente o Harry, os pensamentos que tinham eram de mim mesma.
Estava numa grande nuvem, enorme e muito profunda. Hogwarts era a única coisa nessa nuvem porém a escola de Magia e Feitiçaria parecia mais uma fábrica, era toda cinza e tinha montes de bobinas e tubos que se interligavam. Um objecto mecânico gigante.
Não havia porta e eu sabia que tinha aulas e que muito provavelmente já estava atrasada para as mesmas. Trepei a escola a custo, consegui entrar por uma janela onde estava a decorrer uma aula que parecia tudo menos uma aula da escola de Hogwarts. A professora e os alunos sobressaltaram-se mas eu nem liguei, saí pela porta da sala indo pelo corredor não sabendo bem para onde. Ao fundo do corredor havia uma janela muito iluminada pelo sol da tarde, junto a essa janela uma personagem que nunca esperaria ver nem em sonhos - Jesus Cristo. Nem mais nem menos.
Sendo ateia não me alegrei nem achei que o meu sonho tivesse algo místico relacionado com Deus, fiquei mesmo muito assustada (no sonho), completamente pasmada de terror ao ver aquela criatura à minha frente. Jesus Cristo chorava calmamente e tinha a cabeça baixa, nunca lhe vira os olhos.
Vinda de um outro corredor interligado àquele apareceu uma bruxa que eu já tinha defrontado. Não mais consegui ver Jesus, lutava contra ela com a ajuda da minha varinha e alguns feitiços como: "expelliamus", "nicozembra" chegando até a usar o "Avada Kedavra" sem a afectar.
Não vi outra alternativa que não fugir, corri pelo corredor e escondi-me numa sala muito escura e pequena onde só conseguia ouvir o meu coração a bater e a minha respiração pesada. A porta abriu-se devagarinho e algo entrou, só reparei que era a bruxa quando estava bem perto de mim e conseguia ver os seus olhos esbugalhados. O medo consumia-me com força e quando pensava que ela ia matar-me, ela beija-me, terminando o sonho.
Creio que os meus sonhos não estão nunca destinados a fazer sentido, pelo menos não como todo.