sábado, 18 de dezembro de 2010

O Espectro do cemitério

Devido à importância que este sonho teve para mim, decidi pô-lo na página inicial. Para quem ainda não tenha bem conhecimento, os meus sonhos são uma mistura de locais, pessoas e objectos. Alguns eu sinto que já sonhei mais de vinte vezes, como se fosse uma rotina em algum universo paralelo; visito locais que já conheço, vejo coisas que já vi e dentro de mim ouço uma vozinha a dizer: "boa, voltaste a sonhar com isto agora muda, vai por este caminho". As minhas pernas subconscientes não respondem e volto à mesma rotina.

Eramos, mais o meu pai e a minha irmã, os cabeçilhas daquela aparente ceita religiosa. Não tínhamos ainda caminhado muito, continuávamos no caminho meio enlameado daquele cemitério geométrico. Atrás de mim pessoas que não conseguia descernir empunhavam cruzes, tochas e uns panos que arriscaria dizer serem bandeiras. Sei que um padre caminhava no meio da nossa multidão, sentia-o.
Numa altura todas as pessoas entraram por dois muros de arame farpado à esquerda, por uma porta que não existia. Eu vira algo à direita que me chamara a atenção. Mirava vários conjuntos de aldeias que se estendiam a seguir ao precípício, apenas uma cerca degradada de madeira podre o impedia de cair no precipício - isto se ele caísse. Pairava no ar como um deus. Todo verde vivo em contraste com a paisagem negra e cinzenta; vestia uma capa de um tom verde mais escuro e andava da esquerda para a direita, nunca olhando para mim. Quando sentiu o meu olhar virou-se, quase instantaneamente. Aqueles seus olhos pareciam poder sair das órbitas a qualquer instante e a sua boca, incrivelmente grande, rasgava o rosto de orelha a orelha.
Queria saber quem era, queria ir ter com ele porque algo me dizia que era seguro quando o meu pai me falou:
"Anda, é por aqui." - apontou para a saída à esquerda.
Já todos tinham entrado menos eu, o pai e a Mafalda; deviam estar à minha espera. Queria não ir, as pernas não quiseram saber disso, foram para a esquerda e ele ficou lá, parado pairando a olhar para mim até que eu saí do seu campo de visão e voltou a olhar as aldeias.


domingo, 5 de dezembro de 2010

Talvez fora...

Andara durante umas horas, pareciam somente segundos de tal forma conhecia o caminho para aquela zona do parque. As pernas já se poderia dizer que tinham um GPS incorporado - andavam sozinhas. Esperava ... nada... alguma coisa? Sinceramente não sabia mas esperava e como qualquer pessoa que espera, sentei-me e deixei que os pensamentos voassem. Já não era a primeira nem a segunda vez, mas a sensação de chegar perto das nuvens era demasiado tentadora para a não tentar. E não devia. Mas o que é isso de não dever? Ou era o coração ou era mente, algum teimava e tudo o resto cedia e então lá estava - a divagar.
Pensei no espaço e nos planetas e possivelmente no meu lugar neste mundo; possivelmente na maneira parva das coisas se sucederem; muito provavelmente na quantidade infindável de peças de dominó que caíam e que formavam o caos da minha vida; não valia sequer a pena questionar se tinha pensado nas minhas ideias tresloucadas em que consigo partir, tinha, segundo me conheço tinha e nem dá para ter dúvidas.
No final, quando já passava bastante das seis da tarde e já nem sol nem rasgos de sol estavam no céu, voltei para casa para as horas do costume.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Dizem que não há nada melhor para um escritor que uma grande dor, pois abre-nos o coração e a mente, acontece e eu acho que não há maior dor que a perda de um parente, ainda mais de uma mãe. Este é um poema da minha irmã, que apesar de ser pequenina é uma grande menina e será certamente uma grande mulher.

Mamã...

Quem não merece
É a quem mais acontece
Quem é bom
Leva com o que de bom nada tem
Sem ti não sou ninguém
Ó minha almejada mãe
volta para os meus braços que tanto te querem

para eu poder voltar a dizer "Mamã"

Porque o meu coração sem ti está ao abandono,
como uma flor que sem água murcha
Sem ti sou um deserto com um caminho para o nada
e chegada à rua da Mágoa
Não me deixes aqui só,
com alguém que nada tem
Só o teu carinho me pode alimentar
Vou morrer
de nunca mais te ter.

sábado, 20 de novembro de 2010

A pensar um pouco nos corações

Hoje, nada mais nada menos, passei o dia nas nuvens. Tal como é habitual, passear o cão fazia parte das "things to do" da agenda de hoje. Dirigimo-nos até ao parque mais próximo e por lá ficámos, eu com a cabeça na lua, ele com o focinho nas ervas. Olhava para o meu cão e pensava: no que pensarás tu?
A falta de informação à cerca do cérebro humano, na minha opinião, pouca, é desconcertante. Apenas 10% do cérebro é usado. O nosso hemisfério dominante é o esquerdo (pelo menos em aproximadamente 98% dos humanos), é responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa enquanto que o direito é o inverso; este fica responsável pela criatividade e pensamento simbólico. Contudo isto são apenas palavras, o que dizer dos cães?
Do nada que sei sobre cérebros caninos, e por mais que digam que os animais agem por instintos, não consigo aceitar algo assim. O que dizer daquele par de olhos carinhosos que me olhava a pedir um pouco de carinho? E de cada vez que me observava a fazer algo, aquela sua "expressão" curiosa que me fazia sorrir... não creio que possa haver ser vivo sem sentimentos, apenas instintos.
Temos o bom exemplo dos gatos; grande parte das pessoas consideram estes adoráveis felinos como traiçoeiros e infiéis, mas não será mais a incapacidade de os compreender? Conheci alguém que dizia: "quem tem cão é quem não tem capacidade mental suficiente para ter um gato". Escusado será dizer que essa pessoa era uma grande apreciadora de gatos. Porém podemos ver um tanto de realização nisto: 80% das pessoas que têm cães não têm a mínima paciência para os gatos. Na minha opinião para se ter um gato é preciso ser-se atento e paciente. Um gato não vem logo a correr e a abanar a cauda mal vê uma pessoa,não confia tão cegamente como os cães num estranho. Temos que conquistar a confiança de um gato e, eu acho, o seu coração. Vejo os gatos como pessoas com uma personalidade fincada. Daisy, a minha pequena amiga tem uma personalidade um tanto solitária, gosta de ter o seu espaço, é curiosa como grande parte dos felinos, teimosa e muito esperta. Além disso, e apesar do que pessoas que a tenham conhecido digam, ela é um ser fiel e carinhoso. Tenho-a desde pequena, desde a altura em que era uma pequena bola de pêlo preta e tímida. Hoje, é uma gata bem constituída e que apenas consegue dormir junto a mim. Quando me perde mia até que eu diga o seu nome, vem ter comigo e faz-me uma pequena festa de boas vindas até se ir deitar junto a algum dos meus bonecos. De cada vez que a olho vejo como impossível a ideia de que esta amiga possa ser da forma que é apenas por instintos.
Às vezes prefiro olhar para o mundo de uma forma que para alguns pode ser estranha do que olhar para ele com a frieza que todos olham. Os nossos animais de estimação são os únicos amigos que nunca nos irão abandonar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nada Interessa

Os pés juntos no chão e a cabeça no céu.
As asas que a ela se pregavam tinham crescido
com as suas lágrimas.
E agora que já não chorava ela sentia-se
uma personagem das fábulas.

Não era real nem existia.
Era tanto ou menos que as asas.
Ela apenas tinha um sentimento que a precedia.

Um foco de luz esperançosa consumia-a cá dentro.
O nada que ela era evidenciava o coração;
ainda batia...ainda estava no centro...
Tudo o resto não interessava nem era importante.

Surgiu um clarão e os pés desprenderam-se.
Nada interessava...
As asas gritaram correndo para o céu e era verdade:
nada interessava!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Poderia saltar e correr o mundo...

Uns grandes abraços agarraram-me e disseram-me para ir.
Empurraram-me para o caminho esbranquiçado à minha frente.
Eu fui.

Era uma paisagem imortal.
Imagens de nuvens, branco, azul, preto,

roxo...
Tudo se abraçava ao mesmo tempo.

Uma força que vinha de baixo, que nos mantinha no devido lugar.
Essa força trespassava-me e logo nascia em mim o que tinha perdido.

Poderia cair para sempre...
Voar para sempre...
Abrir os braços e somente ficar longe do mundo,
para sempre...

sábado, 25 de setembro de 2010

Longe...

Sangue do meu coração,
Vida da minha vida;
Os ventos sopram e tu vais para longe,
Balanças e cais sem que eu consiga segurar-te.

Salto para o precipício do teu sofrimento,
negro como o breu, escuro como a noite.

Sangue do meu coração,
Vida da minha vida;

não me deixes, não me abandones.
Já não te vejo e não te sinto.

Estás a cair para longe e afundar-te cada vez mais,
os teus dedos nos meus escorregam
e as tuas palavras no ar dilatam-se.
És um fantasma que eu consigo ver,
um amor que eu não consigo tocar.

Sangue do meu coração,
o que eu sinto pertence-te.
Vida da minha vida,

na tua, na minha.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

As tuas pégadas...

Nas estradas e nas calçadas,
que a lua nua banha
as tuas pégadas acentam;

noite após noite...

São marcas indeléveis do que sentes.
Em cada passo de pedra
eu sinto-te caminhar.
Sempre no mesmo tom, sempre no mesmo lugar.


Dos teus olhos se reflecte,
o que a mente humana,

mente insana
ainda não sabe explicar.


É complicado ver-te andar e desaparecer
nas esquinas das janelas
onde os gatos te esperam no anoitecer.
Onde as suas almas

se ligam a ti e te prendem.

Não podes fugir dos enredos dos gatos.

A tua alma e coração...
nas suas garras aluadas
têm um futuro imprevisível.
Um futuro impossível.

sábado, 5 de junho de 2010

Estou tão cansada...
O peso da vida abatece-se sobre mim em cada suspiro, de cada vez que levanto a cabeça algo vem para a baixar de imediato. Eu aguento e sigo. A minha função parece ser somente aguentar, aguentar a dor, aguentar a tua ausência, aguentar que todos não se importem com o que é a dor, aguentar a estupidez dos outros. Eu tenho plena consciência que o meu coração não passa de um abrigo a mochos e escuridão, pior do que era. Eu aguentava que me tirassem tudo, aguentava porque sim, porque tinha um pensamento feliz guardado para ocasiões mais tristes. O pensamento feliz acabou. Aliás, eu sinto que não irá existir nenhum. Eu era e sou uma pessoa de lutas, sempre tive jeito para entrar em desafios mas chega a um ponto que o corpo e a mente não aguenta. A dor tira-me a respiração e as lágrimas cegam-me sempre que pestanejo, a felicidade à minha volta é enervante. Ninguém merecia mais ser feliz do que tu, ninguém mais do que tu merecia uma vida longa e feliz junto à família. Mas não, alguém teria que te roubar de mim. Alguém teria que te arrancar o último suspiro enquanto lutavas, não por ti, mas por nós, a tua família.
E de cada vez que me dizem, "confia em Deus" a minha vontade é de gritar e a todos e ao céu:
"Não vou ser fraca ao ponto de esperar um milagre e submeter-me a alguém que nem sequer sei que existe. Vou ter a força de negar e lutar para sofrer, lutar para salvar."
Mas a cada dia...
estou mais cansada...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O olhar dos gatos

Já tinha visto crescer das suas patinhas
longos fios de lã.
Enquanto os seus olhos,
finos e espectrais cor de avelã,
não largavam a noite.

Os gatos e a noite são inseparáveis.

Têm o mesmo tom misterioso,
partilham da mesma curiosidade sobre o mundo.

Aqueles olhos de avelã
e os brancos da noite...
os dois se resumem a uma mesma forma de olhar.

A um olhar transcendental
capaz de abranger todo o universo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O mundo gira e gira...

Com esta chuva parece que me perco no mundo. Esta tão grande esfera de medo e resistência. Todos nós perdemos a noção de quem somos, de onde viemos, o nosso passado e futuro e mais complexo e difuso que uma bola de cristal. De nada nos vale perguntar-mos, quem somos? de onde viemos? as respostas continuam a mesma confusão de letras que sempre foram. Debruçamo-nos sobre livros e manuscritos sem nada ver para além de letras, palavras, frases. Parece que tudo aquilo não passa de uma criação de alguém cujo propósito era complicar as coisas. Para o futuro, não muito mais há para ver. Isto é se existir futuro, tal como se existisse o amanhã.
Para mim não há amanhã, o que há é hoje. E hoje, é um dia de chuva.



Estou neste momento a escrever num blog por causa de um conselho de uma professora minha. Na realidade, adoro escrever, desde narrativas, poesia e tudo o mais. Deste modo, decidi entrar num blogue para mostrar a quem quiser ler, a minha escrita e o que penso de alguns assuntos que serão abordados aqui. Penso em ser escritora um dia, além de outras coisas pois sou uma pessoa de gostos bastante variados. Escrevo sobre todo o tipo de coisas, nas quais se incluem pensamentos meus, preocupações, gostos e outras vezes escrevo apenas porque me sinto inspirada para isso. Neste blogue irão incontrar variados tipos de coisas relativamente à escrita. Espero que gostem.